O mercado de petróleo está perdendo uma importante fonte de crescimento este ano, uma vez que a produção da gigante brasileira Petrobras deve se manter estável após um salto em 2023.
O problema tem duas vertentes. Alguns campos importantes que a petrolífera colocou em operação no início da década de 2010 atingiram o pico e começaram a declinar.
Ao mesmo tempo, há uma pausa na entrega de novos equipamentos de produção para campos que ainda estão em expansão. Como resultado, a Petrobras não espera registrar crescimento anual novamente até 2026.
Isso significa que qualquer expansão de curto prazo no Brasil virá de empresas petrolíferas estrangeiras e de produtores juniores locais, que operaram apenas 12% da produção do país no ano passado.
O diretor executivo de Exploração e Produção da Petrobras, Joelson Mendes, está com pressa para explorar áreas fora do pré-sal, que fornece mais de 70% da produção do Brasil. Caso contrário, a produção geral do país só crescerá até 2030, aproximadamente, e depois começará a despencar.
— O pré-sal não vai durar para sempre — disse Mendes em entrevista em uma das torres corporativas da empresa no Rio de Janeiro. — Até 2050, o Brasil será um país insignificante em termos de produção de petróleo”, a menos que a Petrobras encontre mais petróleo.
É uma reversão significativa. A produção do Brasil cresceu mais no ano passado do que a de qualquer outro país, exceto EUA e Irã, o que contribuiu para que a Opep+ restringisse a oferta para sustentar os preços.
Principal campo do pré-sal produz menos
A pausa prolongada da Petrobras oferecerá um pouco de alívio à Opep e à Rússia, embora a produção nos EUA e na Guiana deva continuar crescendo. A recente tensão geopolítica no Oriente Médio destaca como a produção de outras regiões é crucial para a segurança energética global.
O principal desafio da Petrobras é Tupi. Foi o primeiro campo do pré-sal a entrar em produção em 2010 e ainda é o que mais produz no Brasil, com 832,000 de barris por dia de petróleo no ano passado. No entanto, sua produção caiu 13% desde seu pico em 2020.
Um campo menor do pré-sal, o Sapinhoá, caiu 18% desde 2020, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis, a ANP. Os declínios estão compensando o crescimento em outros projetos, como Búzios, que é ainda maior do que Tupi em termos de potencial.
A empresa está tomando medidas para limitar o ritmo anual de declínio de Tupi a 7% ou 8% ao ano, em comparação com uma média de cerca de 10% para a Petrobras como um todo, disse Mendes. A estatal espera que a ANP prorrogue o contrato do campo até a década de 2060.
A Petrobras precisa da aprovação da agência reguladora para justificar o investimento de bilhões de dólares para extrair barris adicionais em Tupi.
Uma nova plataforma de produção e equipamentos associados podem custar até US$ 7 bilhões e não estariam prontos até 2029, na melhor das hipóteses, disse Mendes. Os sócios minoritários da Petrobras em Tupi são a Shell e a Galp.
Expansão da frota de plataformas
A Petrobras também está desacelerando a expansão da maior frota do mundo das plataformas do tipo FPSO. Ela está adicionando apenas um este ano, depois de adicionar quatro em 2023 — dentre um total de 14 previstos até 2028. Alguns FPSOs podem produzir até 225.000 barris por dia cada.
De acordo com Mendes, muitos analistas de petróleo têm uma visão mais otimista do que a estimativa de produção da empresa, que leva em conta potenciais complicações decorrentes de trabalhos de manutenção e atrasos na entrega de equipamentos. A Agência Internacional de Energia (AIE) espera que o Brasil eleve sua produção em 240.000 barris por dia este ano.
A bacia marítima que a Petrobras está mais animada para explorar é conhecida como Foz do Amazonas, onde a empresa vem lutando com as autoridades brasileiras para obter licenças de perfuração em uma área ambientalmente sensível na costa do Amapá. A Petrobras esperava que um recurso fosse resolvido este mês, mas uma paralisação no Ibama gerou incerteza, disse Mendes.
Enquanto isso, a empresa perfurará um segundo poço em outra bacia da chamada Margem Equatorial brasileira ainda este mês. O setor petrolífero tem grandes expectativas de que a região possa abrigar grandes campos semelhantes aos que a Exxon está desenvolvendo na Guiana.
Busca no exterior
Internacionalmente, o foco principal da Petrobras é a Colômbia, onde continua a explorar uma importante descoberta de gás em alto-mar e planeja perfurar pelo menos mais dois poços este ano. Se for bem-sucedida, poderá haver gás suficiente para abastecer a Colômbia e também justificar um terminal de exportação, disse Mendes.
A Petrobras também está estudando dados sísmicos em três blocos de exploração em São Tomé e Príncipe, duas ilhas vulcânicas ao largo da costa da África Central que demonstraram semelhanças geológicas com a Guiana.
A companhia comprou participações minoritárias em blocos da Shell no final do ano passado, marcando um retorno à África, onde a administração anterior havia vendido ativos. A empresa também está interessada em aquisições em outras partes da África, incluindo a Nigéria.
— Temos conversas em andamento. Estamos voltando porque temos interesse e conhecimento — disse Mendes.