Mesmo com a redução de 12,6% no preço da Petrobras,gasolina de Mataripe ainda era mais barato
Os preços de combustíveis praticados pela Acelen, proprietária da Refinaria de Mataripe, foram os mais baixos do mercado baiano em 80% dos dias deste ano, de acordo com um levantamento realizado pela empresa. No caso do diesel, foram realizadas 10 reduções consecutivas, acumulando queda de 31% desde o início do ano. Já a gasolina acumula uma queda de 16% no mesmo período. Mesmo com a redução de 12,6% no preço do combustível por parte da Petrobras, ontem o produto oferecido pela Acelen ainda era mais barato.
Em uma nota de posicionamento sobre a nova política de preços da Petrobras, a Acelen avaliou a estatal “não traz informações suficientemente claras para garantir previsibilidade dos preços de combustíveis no Brasil”. A dona da Refinaria de Mataripe avalia que isto pode trazer problemas para o abastecimento do mercado nacional. “A ausência de previsibilidade dos preços de combustíveis desta nova política tende a afastar novos investidores e investimentos”, alerta a empresa.
Na última quarta-feira, a principal petroleira do país avisou que modificará a sua política de reajustes, deixando de lado a fórmula da Paridade de Preço de Importação (PPI) para a definição dos reajustes praticados por ela. O presidente da empresa, Jean Paul Prates, informou que o mercado internacional será levado em conta, mas em um novo modelo. Adotada no governo do ex-presidente Michel Temer, a PPI permitia ao mercado de petróleo uma previsibilidade em relação à movimentação de preços.
A definição de preços de combustíveis costuma se ser olhada com bastante atenção graças ao enorme potencial de impacto na economia e no custo de vida. Mas para quem vive na Bahia, a situação é ainda mais complexa, uma vez que a Refinaria de Mataripe é relevante para a composição do Produto Interno Bruto (PIB) e na arrecadação de tributos.
Para Marcelo Lyra, vice-presidente de comunicação, Relações Institucionais e ESG da Acelen, a previsibilidade é fundamental para o mercado de petróleo. “O Brasil é importador de derivados, quando a gente segue o PPI há um equilíbrio entre importação, exportação, refino de estatal e empresas privadas. O jogo fica equilibrado e isso gera as condições adequadas para manutenção e os investimentos que são tão necessários”, defende.
Segundo o diretor da Acelen, a empresa pretende manter a política de preços baseada no mercado internacional. Ele lembra que, como qualquer comodities, o petróleo segue cotações baseadas em mercados globais. “Seguindo as regras de mercado, em algum momento nós poderemos ter um produto mais barato e no outro, o nosso concorrente”, explica. No ano passado, por exemplo, a Acelen praticou preços mais baixos que a concorrência por 120 dias, conta. A refinaria baiana reajusta os seus preços semanalmente, dando previsibilidade ao mercado, diz. “Todas as vezes que o petróleo desceu, a gente abaixou os preços logo em seguida, mas cada um tem as suas regras, a sua forma de trabalhar”.
“Estamos falando de commodities, você não vê um produtor de milho, de soja ou de minério de ferro dizer ‘eu vou vender mais barato que meu concorrente’, porque os preços são internacionais. É o mesmo caso do petróleo”, destaca.
Mesmo com as incertezas que a movimentação da Petrobras traz para o mercado, a Acelen mantém os planos de investimentos anunciados anteriormente, diz Lira. “Nós investimentos R$ 1,1 bilhão no ano passado, temos uma previsão significativa este ano em modernização e atendimento a determinadas condições de operação e segurança. A gente têm, pelo menos, três anos de investimentos intensivos na refinaria, isso não muda”, afirma. Além disso, lembrou, o investimento de R$ 12 bilhões em diesel renovável também não deve ser mexido, pondera. “O que já está desenhado não deve sofrer impacto desta política ou nos motivar a algum tipo de retrocesso em decisão tomada”, acredita.
Por outro lado, pensando no mercado de maneira mais ampla, Lira acredita que a previsibilidade de preços é fundamental para atrair novos investimentos em refino no país.