Um dos principais temas que estão sendo explorados nas campanhas eleitorais é a alta no preço da gasolina. Para Bruno Pascon, cofundador e diretor da CBIE Advisory (Centro Brasileiro de Infraestrutura), por mais que os combustíveis sejam o ponto fraco do atual governo, é possível trabalhar o tema a favor.
“Não faz sentido cobrar do petróleo e da energia elétrica a mesma tarifa [de ICMS] que produtos supérfluos. O governo sabe disso e sabe que se aprovar essas medidas que vão exonerar o bolso do consumidor, haverá um impacto positivo nas pesquisas de intenção de voto”, disse Bruno em entrevista para o Money Times.
O CIEB é uma empresa de consultoria em energia, que faz projeções no setor de energia e petróleo. Um dos seus sócios fundadores é Adriano Pires, economista indicado para assumir o comando da Petrobras no fim de março. Ele recusou o convite por não ser possível conciliar o trabalho de consultor com o exercício da presidência da estatal. Quem entrou em seu lugar foi José Mauro Ferreira Coelho – já substituído por Caio Mário Paes de Andrade.
Como está o cenário atual do petróleo?
O cenário de petróleo este ano está bem complexo de projetar, porque tem uma série de variáveis. Mas, hoje, a média do preço do barril para 2022 está em US$ 104,72. Os últimos dados de petróleo estão próximos de US$ 100 e quando olhamos as projeções, deve ficar abaixo desse patamar a partir de novembro, com US$ 98 o barril. Ainda assim, temos uma previsão para este ano de média de US$ 114 o barril.
Por que há esse cenário de preços mais altos?
São dois grandes motivos: primeiro porque a guerra da Rússia e da Ucrânia ainda não acabou. Recentemente, o JP Morgan falou que se houver um impacto de redução da produção da Rússia, que é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, o preço da commodity poderia bater os US$ 380, algo nunca visto na história.
A previsão é de que, possivelmente, a guerra termine quando começar o inverno no hemisfério norte, lá pelo fim do ano. Se esse cenário se concretizar, a gente terá o preço do petróleo a US$ 114, sendo que em condições normais, seria US$ 94.
Quando colocamos esses dois cenários [de guerra e temporada de furacões], ainda não dá para comemorar que o petróleo vai ficar constantemente abaixo de US$ 100 até o fim do ano. Agora, passado esse momento, já temos uma projeção do petróleo em US$ 86 para o ano que vem e caindo. E por que é isso? O preço do petróleo tem uma correlação muito grande com a economia global. Quando você coloca nesse cenário de recessão, quanto menor o crescimento da economia global, menor é a pressão de preço. Por isso, já tem banco falando que o barril poderia ir para US$ 65 ou até US$ 40. Eu não acho que chegue nesse patamar de antes da pandemia, mas diria que no longo prazo a projeção é de US$ 70.
A gente tem que lembrar que existe outro aspecto que impacta o consumo de petróleo e gás que é o inverno no hemisfério norte. O preço do diesel está descolado do preço do petróleo, porque, além das pressões de commodities, no caso do diesel tem o efeito da Rússia deixar de ser um supridor de energia para a Europa. Antes da guerra, de 40% a 55% do gás consumido na Europa eram da Rússia. Agora que esse fornecimento russo foi interrompido, a região corre o risco de desabastecimento. Então, alguns países estão começando a estocar diesel para garantir o aquecimento na época do inverno. Esse impacto da crise energética da Europa vai um pouco além desse ano, porque a região quer cortar totalmente o vínculo com a Rússia até 2027.
Como essa queda no petróleo reflete nos preços aqui no Brasil?
Se, de fato, o petróleo continuar caindo, a tendência é ter anúncios de redução de preço. A Acelem já reduziu na semana passada o preço na bomba – foi uma queda 5,2% no litro da gasolina e 9% no diesel. Agora, aqui no Brasil, temos sempre que olhar o preço do petróleo junto com o câmbio.
As projeções são de que o ano termine com o dólarem R$ 5,10. Só que, hoje, ele está em R$ 5,30 e chegou a bater R$ 5,40 recentemente. Então, nós precisamos ver como vai ser o comportamento do real no próximo semestre. Em outubro tem eleições e, tradicionalmente, é um período de maior volatilidade.
Além disso, o câmbio está muito atrelado à preocupação do mercado com o risco fiscal. Essas medidas da PEC trazem um alívio para o bolso do consumidor, mas também trazem uma pressão fiscal maior.
Uma revisão nos preços pode, de fato, influenciar nas eleições?
Dependendo da pesquisa, a gente vê que esse aumento no auxílio está se revertendo em votos para Jair Bolsonaro. Então, eu diria que a questão de preço dos combustíveis e de energia elétrica é o grande calcanhar de Aquiles do governo. No caso das tarifas de energia elétrica, até tem um histórico de, por exemplo, devolver o PIS/Cofins na tarifa. Mas as mudanças no ICMS vão reduzir bem a pressão tarifária para esse ano.
Nós sempre fomos a favor de uma redução dos impostos, dentro de uma grande reforma tributária, porque não faz sentido cobrar do petróleo e da energia elétrica a mesma tarifa que produtos supérfluos, como cigarro, bebida e roupas. Eles são bens fundamentais na vida do brasileiro. O governo sabe disso e sabe que se ele aprovar essas medidas que vão exonerar o bolso do consumidor, isso traz um impacto positivo nas pesquisas de intenção de voto.
Existe um risco de, com a mudança de CEO, a Petrobras acabar fazendo uma espécie de congelamento informal para não se estressar com o governo?
Congelamento não, mas a Petrobras já tem espaçado bem os reajustes. Normalmente, a indústria consegue estocar combustível por uns três meses. Então, toda vez que a Petrobras está próxima de completar esses três meses, já começam os burburinhos de reajuste. Como teve um reajuste em junho, não deve haver nenhum anúncio de mudança de preços até o primeiro turno das eleições. Claro, isso vai depender muito de quão agressiva será a volatilidade dos preços e câmbio daqui até lá.