Os líderes do G7 se reuniram esta semana para explorar o limite dos preços do petróleo e do gás russos para tentar reduzir a receita de Moscou, informou a Reuters.
Vários funcionários, incluindo a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, acreditam que a medida limitará o preço da energia russa, permitindo que os consumidores ocidentais continuem recebendo suprimentos de energia.
Algo semelhante já aconteceu antes: o programa Petróleo por Alimentos da ONU de 1995 foi introduzido pelo governo do presidente dos EUA, Bill Clinton, para atender às necessidades humanitárias dos iraquianos comuns, para permitir que o Iraque vendesse petróleo em troca de alimentos e remédios, enquanto ao mesmo tempo, não permitia que o governo de Saddam Hussein desenvolvesse capacidades militares.
Os compradores de petróleo transferiram dinheiro para uma conta de garantia no BNP Paribas (EPA:BNPP), que foi usada para pagar reparações de guerra ao Kuwait, financiar operações da ONU no Iraque, e o próprio Iraque comprou bens regulamentados com os fundos restantes. No entanto, o programa sofreu com corrupção e abusos generalizados.
Mas, ao contrário de 1995, hoje não há essa unidade em relação à Rússia: China, Índia e Paquistão estão entre os 35 países que se recusaram a condenar a Rússia. China e Índia se tornaram os maiores compradores de petróleo russo com grandes descontos, já que a Europa reduziu as importações.
O objetivo da tentativa de limitar os preços do petróleo é claro: impedir que a Rússia aumente suas receitas petrolíferas, incentivar preços ligeiramente acima do custo de produção, mantendo a própria produção. Hoje, a Rússia está recebendo mais receita do que antes do início da guerra em 24 de fevereiro, já que os aumentos globais de preços compensaram o impacto das sanções ocidentais. Assim, um embargo direto ao petróleo russo provou ser contraproducente à medida que as receitas aumentaram.
Mas criar um cartel de compradores de forma a privar a Rússia de petrodólares e ao mesmo tempo aliviar a pressão inflacionária dos preços do petróleo não é fácil.
A principal incerteza aqui é a decisão do presidente russo Vladimir Putin: se ele decidir reduzir as exportações de petróleo ou gás, esse plano sairá pela culatra e aumentará os preços, o que será um “cenário de pesadelo” para a Europa.
Com os preços de referência do petróleo Brent em US$ 110-120 por barril, o petróleo russo é vendido com grandes descontos de US$ 30-40 por barril, e os compradores da China e da Índia estão comprando-o avidamente.
Os países do G7 querem cortar as receitas do petróleo russo, o que significa estabelecer um teto de preço bem abaixo do que os compradores estão pagando atualmente.
Os custos de produção na Rússia são de US$ 3-4 por barril, e os petroleiros russos provavelmente poderiam lucrar mesmo que os preços do petróleo fossem de US$ 25-30 por barril, segundo autoridades ocidentais.
Uma maneira de atingir a meta do Ocidente de limitar o preço do petróleo russo é através do seguro de transporte.
Um grupo internacional de clubes de defesa e reparação com sede em Londres atende cerca de 95% da frota mundial de transporte de petróleo.
Os compradores de petróleo russo podem receber uma isenção da proibição do seguro de navios na Europa, que entrará em vigor no início de dezembro, se pagarem abaixo do preço máximo.
No entanto, existem muitos obstáculos, e o mais óbvio é que a Rússia pode não concordar em vender petróleo a esses preços, principalmente se o preço marginal for muito baixo e próximo ao custo de produção.
De fato, o presidente Putin já mostrou sua disposição de renunciar ao fornecimento de gás natural aos países da UE que se recusaram a cumprir os requisitos de pagamento em rublos.
O próximo obstáculo poderia ser a China, que poderia assumir o seguro russo. A resseguradora nacional da Rússia, controlada pelo Estado, tornou-se a principal resseguradora de navios russos.
Além disso, os compradores de petróleo russo, em particular a Índia, certificaram a segurança de dezenas de navios, o que permite exportar facilmente petróleo russo.
A Rússia e alguns compradores encontraram alternativas ao mercado de seguros europeu usando uma combinação de seguradoras locais e garantias governamentais.
Além disso, as seguradoras europeias podem não estar dispostas a assumir a responsabilidade de monitorar o preço máximo e decidir não cobrir tais transações, mesmo que existam isenções. A UE também precisará alterar as sanções que adotou no final de maio, o que exigirá o apoio unânime de todos os países.