Do campo ao posto de combustíveis, etanol de milho ganha mercado no Brasil

O milho que alimenta as galinhas, porcos e o gado bovino, que é tradição na culinária brasileira e produto de exportação, também é matéria-prima para o etanol presente nos postos de combustíveis pelo país. A combinação entre grande oferta de grãos e um horizonte promissor para a demanda, pegando carona na transição energética, tem atraído investimentos para esse biocombustível que promete ocupar cada vez mais espaço na matriz nacional.
O ‘boom’ na produção de etanol nos Estados Unidos, toda a partir do milho, que aconteceu nos anos 2000 levou a Cerradinho Bioenergia a se questionar quando seria a hora de entrar nesse negócio no Brasil. “A gente sempre se perguntou quando poderíamos começar a amadurecer essa ideia”, afirma Renato Pretti, diretor executivo do Negócio Milho do Grupo Cerradinho.
Em meados de 2012, quando o grupo começou a olhar para a matéria-prima, não imaginava que iria se tornar uma das principais apostas da companhia para o futuro.
A produção americana de etanol começou na década de 1980 e no ano 2000 alcançou 6,2 bilhões de litros, conforme dados da Associação de Combustíveis Renováveis (RFA, na sigla em inglês). Daí até 2010, o volume cresceu quase oito vezes, para 49,3 bilhões de litros.

Em 2022, o país que é líder global nesse mercado chegou aos 58,14 bilhões de litros, de acordo com dados mais recentes da entidade.

Crescimento de 36%
O Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial do etanol, e deve fabricar cerca de 34 bilhões de litros na safra 2023/24, mas a produção proveniente do milho deve encerrar a temporada atual na casa dos 6 bilhões de litros – já que a maior parte do biocombustível por aqui é produzido a partir da cana-de-açúcar.
O volume estimado para o etanol de milho nesta safra é menor que o de cana, mas representa um crescimento de 36% em relação ao ciclo anterior, segundo projeção da União Nacional de Etanol de Milho (Unem). A expectativa da entidade é que o setor produza 10 bilhões de litros até a safra 2030/31, abocanhando mais de 20% do mercado brasileiro de combustíveis.

“Nos últimos seis anos, tivemos mais de R$ 20 bilhões de investimentos em toda a cadeia de produção de etanol de milho, entre indústrias, armazenagem, logística rodo e ferroviária, etc. O que atrai esses investimentos é uma agenda mundial de transição energética, de descarbonização, em que o etanol pode ser estratégico em vários países, seja na aplicação direta ou como matéria-prima para outros biocombustíveis, como o hidrogênio verde”, afirma o presidente da Unem, Guilherme Nolasco.

E foi vislumbrando esse horizonte que a CerradinhoBio decidiu tirar seus planos do papel. A companhia criou a subsidiária Neomille focada na produção de bioenergia e coprodutos a partir do milho, tendo como carro-chefe o etanol, e acaba de iniciar as operações de sua segunda usina, localizada em Maracaju (MS).
“Começamos a olhar para este segmento em meados de 2012, porém somente em 2015 passamos a materializar mais a ideia. Nossa primeira planta iniciou a operação em novembro de 2019, em Chapadão do Céu (GO), onde já existiam operações de cana, passou por uma ampliação em 2022 e agora estamos preparados para este novo site em Maracaju”, diz Pretti.

Segundo ele, ao todo, a CerradinhoBio investiu cerca de R$ 1,7 bilhão em etanol de milho, sendo R$ 1,08 bilhão apenas na segunda unidade, que já nasceu projetada para ter ampliações futuras. “Fomos uma das primeiras usinas de etanol de milho no país. Acreditamos muito no produto, e a gente sabe que o Brasil vai precisar de biocombustíveis no médio e longo prazo”, acrescenta o executivo.

Vinicius Damazio, especialista no mercado de etanol da Argus, ressalta que essas usinas são intensivas em capital investido, mas o retorno financeiro é relativamente rápido, o que ajuda a estimular as apostas no setor.
“Se fizer uma justaposição das receitas obtidas pelas usinas com etanol combinado aos grãos secos de destilaria, conhecidos como DDG, e os preços da eletricidade em baixa, essa combinação se mostra muito vantajosa. O DDG é uma indústria que tem crescido muito para alimentar bovinos, por exemplo”, afirma o especialista, em referência ao DDG, um subproduto do processamento do milho.

No caso da nova unidade da Neomille, serão produzidos 266 milhões de litros de etanol, 161 mil toneladas de DDG, 10 mil toneladas de óleo de milho e ainda haverá geração de 51 gigawatt-hora (GWh) de energia. A planta já existente em Chapadão do Céu (GO), produz 382 milhões de litros de etanol, 223 mil toneladas de DDG e 15 mil toneladas de óleo.

 

Fonte: https://www.fecombustiveis.org.br/noticia/do-campo-ao-posto-de-combustiveis-etanol-de-milho-ganha-mercado-no-brasil/255701

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