O mundo caminha para um “período turbulento”, com um aperto no fornecimento de gás natural liquefeito e petróleo que exacerba uma crise global de energia, disse o chefe da Shell, Ben van Beurden.
O CEO da gigante de petróleo e gás pintou um quadro sombrio de um mercado de energia que terá dificuldades em substituir grandes volumes de petróleo e gás russos que ainda fluem para a Europa.
“Será que haverá muitos novos suprimentos extra de GNL para preencher a lacuna? Acho que não”, disse Van Beurden em Singapura na quarta-feira.
O mundo enfrenta uma escassez de gás natural em meio a interrupções no fornecimento da Rússia e uma forte demanda pelo combustível à medida que as economias se recuperam da pandemia de coronavírus.
Moscou reduziu o fornecimento de gás através de um importante gasoduto para a Europa em meio a crescentes tensões relacionadas à guerra na Ucrânia, e isso faz com que os governos de todo o continente se preparem para uma paralisação total dos suprimentos.
“A capacidade ociosa é muito baixa e a demanda ainda está se recuperando”, disse Van Beurden. “Então, com isso, e também as incertezas com a guerra na Ucrânia e as sanções que podem vir dela, há uma boa chance de estarmos enfrentando um período turbulento.”
A Rússia responde por cerca de um terço das importações de gás natural da Europa através do gasoduto Nord Stream, disse ele.
A Europa poderia extrair até 50 bilhões de metros cúbicos de gás adicional por ano do controverso campo de gás de Groningen, na Holanda, mas isso seria uma medida de último recurso para o governo holandês, disse Van Beurden.
A produção do campo foi restringida há anos por causa de terremotos desencadeados pela perfuração de gás.
A perspectiva para o petróleo não é muito melhor. Van Beurden diz que a capacidade ociosa da Opep era menor do que a maioria acreditava ou esperava, enquanto a demanda atingiu níveis pré-pandemia e continuará aumentando nos próximos anos.
Isso colide com um declínio de cerca de US$ 1 trilhão em investimentos na indústria de combustíveis fósseis nos últimos três anos que teria acontecido em “circunstâncias normais”.
“Enfrentaremos mercados apertados, a menos que haja uma queda muito significativa na demanda”, disse ele.
Quando questionado sobre a ideia do G7 de impor um limite de preço para o petróleo russo para diminuir as receitas relacionadas à energia ao Kremlin que são usadas para financiar a guerra na Ucrânia, Van Beurden foi cético: “Já dá para ver todas as falhas”.
Esse sistema funcionaria apenas se houvesse ampla participação além da Europa e dos EUA, disse.
Caso contrário, “você continuará apenas vendo o que está acontecendo atualmente, que é o petróleo russo que irá para países que ainda podem comprar Urais, por exemplo”, disse ele em referência ao principal petróleo de exportação da Rússia.
Fonte: https://www.moneytimes.com.br/crise-global-de-energia-vem-ai-diz-ceo-da-shell/