O Brasil reduziu as importações de diesel e gasolina em 2023 ante o ano anterior, em meio a uma expansão do consumo de biocombustíveis e com um avanço da produção da Petrobras (PETR4), cujas refinarias estão operando próximas da capacidade máxima, apontaram especialistas nesta terça-feira.
A importação diesel A (puro) caiu 8,8% no ano passado, ante o recorde registrado no ano anterior, para 14,67 bilhões de litros — apesar de uma expansão acelerada do consumo nos postos do país –, por conta de um aumento na produção nacional e de uma maior mistura de biodiesel no combustível fóssil vendido nas bombas.
Já as compras externas de gasolina caíram 8,2% no mesmo período, para 4,16 bilhões de litros em 2023, diante de uma queda de competitividade frente ao etanol hidratado, seu principal concorrente nas bombas, além do avanço da Petrobras.
Mesmo assim, as importações de diesel no ano passado somaram o segundo maior volume da série histórica, perdendo apenas para 2022, em um ano marcado também pelo avanço do diesel russo no país, que tomou dos Estados Unidos a posição de principal fornecedor externo do Brasil, segundo dados do governo.
À Reuters, o analista de mercado da StoneX Bruno Cordeiro afirmou disse que o consumo de diesel provavelmente registrou recorde em 2023 nas bombas, enquanto a produção doméstica do combustível subiu 5,1% no acumulado do ano até novembro versus o mesmo período de 2022, para uma máxima de 43,91 bilhões de litros.
“Isso fez com que a gente dependesse menos das importações”, pontuou Cordeiro. A Petrobras registrou recordes de vendas e volumes produzidos de diesel S-10, o mais comercializado no país, no terceiro trimestre, enquanto o governo do PT que tomou posse este ano busca reduzir a dependência externa. Além disso, a mistura obrigatória de biodiesel no diesel vendido nas bombas passou de 10% em 2022 para 12% a partir de abril de 2023.
Ainda assim, a StoneX calcula uma demanda total de diesel B (já misturado com biodiesel) no país de 65,1 bilhões de litros em 2023, uma alta de cerca de 3% ante o recorde anterior de 63,2 bilhões de litros registrado em 2022.
O forte consumo foi puxado por um desempenho econômico positivo e pelo aumento da produção brasileira de soja e milho na safra 2022/23, disse a StoneX em relatório.
DEZEMBRO
Em dezembro, a consultoria destacou que houve importação recorde para o mês de 1,9 bilhão de litros, principalmente devido a uma antecipação das compras de diesel em um período prévio à reoneração dos tributos federais sobre o diesel A, em 0,35 real por litro, a partir de janeiro deste ano, incentivando um início antecipado das compras do combustível.
“Importadores e distribuidores estavam tentando importar ao máximo até o final de dezembro para aproveitar um ganho contábil que vem com reoneração do PIS/Cofins”, disse o especialista em combustível da Argus, Amance Boutin.
Em dezembro, Boutin afirmou que o percentual de diesel russo total importado somou um recorde de 86,7%, principalmente devido a atratividade do produto de origem russa frente aos preços da Petrobras e de concorrentes externos.
Boutin sinalizou que dificilmente esse percentual irá crescer muito mais, uma vez que importadores brasileiros têm contratos de longo prazo com outros fornecedores e a própria Petrobras também realiza importações de outras origens.
DIESEL RUSSO
Em 2023, a Rússia se tornou a principal fornecedora externa de diesel ao Brasil, representando 50,45% do total importado, enquanto os EUA — tradicionalmente os principais fornecedores do país — representaram 24,47%, segundo dados do governo compilados pela StoneX. Em terceiro lugar ficaram os Emirados Árabes Unidos, com 9,67%.
Em 2022, o diesel norte-americano havia representado 57,02% das importações do Brasil e a Rússia não figurava entre os cinco maiores fornecedores. O produto da Rússia tem sido ofertado com desconto em relação a outras origens, conforme Moscou se mobiliza para garantir uma maior diversificação de compradores diante de sanções dos países do G7 aos derivados produzidos no país por conta da guerra da Ucrânia.
EXPECTATIVAS PARA 2024
Para este ano, a StoneX afirmou que as importações de diesel pelo Brasil devem se manter aquecidas, uma vez que o país continua dependente do mercado externo para suprir sua demanda crescente e suas refinarias já operam próximas da capacidade máxima.
Entre janeiro e novembro de 2023, cerca de 23,6% do diesel A consumido pelo país veio de importações. Em contrapartida, haverá novo aumento da mistura de biodiesel no diesel de 12% para 14%, reduzindo em parte a necessidade.
Nas projeções da StoneX, o consumo de diesel B deve registrar um avanço de 1,4% em 2024 frente a 2023, totalizando 66 bilhões de litros, garantido por mais um ano de crescimento do PIB e uma produção de soja e milho que, apesar de se manter abaixo do ano anterior, devem seguir em patamares elevados frente a série histórica.