Segundo JPMorgan, sanções do G7 e retaliações da Rússia podem fazer o preço do barril chegar até os 380 dólares – e pressionar ainda mais os combustíveis.
A alta dos preços do petróleo, que motivou até a aprovação de um estado de emergência em PEC que distribui benefícios sociais, parece que está longe de acabar. O valor do barril, que oscila entre 110 e 120 dólares desde o início da invasão da Rússia contra a Ucrânia, puxa a inflação no Brasil e em todo mundo e, segundo uma projeção feita pelo banco JPMorgan, pode chegar até 380 dólares, mais de três vezes o valor atual. Uma alta forte nos preços traria mais uma dor de cabeça ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta de todas as formas segurar os impactos dos preços dos combustíveis às vésperas das eleições -– seja com trocas na Petrobras, cortes de impostos ou distribuição de benefícios sociais.
Em nota enviada a clientes, analistas do JPMorgan afirmam que os mecanismos do G7, grupo das sete maiores economias do mundo, de limitar o petróleo russo e tentar frear a fonte de recursos de Vladimir Putin em seu conflito contra a Ucrânia podem ter efeito colateral. Isso porque, dada a robusta posição fiscal de Moscou, o país pode se dar ao luxo de reduzir a produção diária de petróleo em 5 milhões de barris sem prejudicar excessivamente a economia em todo o mundo.
Nas contas dos analistas, um corte de 3 milhões de barris nos suprimentos diários elevaria os preços do petróleo tipo Brent, referência para a Petrobras, em 190 de dólares, enquanto o pior cenário de 5 milhões poderia significar petróleo “estratosférico” de 380 dólares, escreveram os analistas. “O risco mais óbvio e provável com um teto de preço é que a Rússia pode optar por não participar e, em vez disso, retaliar reduzindo as exportações”, avaliam. “É provável que o governo possa retaliar cortando a produção como forma de infligir dor ao Ocidente. O aperto do mercado global de petróleo está do lado da Rússia.”
As projeções não são nada animadoras já que por aqui, mesmo com as articulações do governo para baixar o preço dos combustíveis, ainda há defasagem em relação ao mercado internacional. Segundo a Abicom, associação dos importadores de combustíveis, a gasolina segue 6% mais barata no Brasil que no exterior. Vale lembrar que a Petrobras segue a política de paridade de preço com o mercado internacional e, devido à crise do petróleo, gerou uma guerra entre o governo de Jair Bolsonaro e a diretoria da estatal. No último ano, o governo trocou três vezes a presidência da companhia. Do novo presidente da empresa, Caio Mario Paes de Andrade, a Casa Civil espera um apaziguamento da crise, isto é, que os repasses possam parar pelo menos até a eleição.
Enquanto briga com a Petrobras, Bolsonaro articula políticas que possam amenizar os preços, como corte o ICMS e a recente PEC dos Combustíveis, que prevê a decretação do estado de emergência anteriormente citado e um rombo de mais de 40 bilhões de reais no teto de gastos para bancar aumento no Auxílio Brasil e vouchers para caminhoneiros e taxistas — tudo isso a menos de quatro meses da eleição.