Levantamento do Cepea, da USP, aponta que o valor do litro do combustível chegou ao seu maior índice desde 2002 no Brasil.
O litro do etanol hidratado já se aproxima de R$6 em postos de combustíveis da região metropolitana de Belo Horizonte e perde a competitividade frente à gasolina. Conforme a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o valor médio de comercialização é de R$5,49 .
No entanto, a reportagem de OTEMPO registrou estabelecimentos fazendo a revenda aos motoristas por R$5,85 e R$5,89 no Eldorado, em Contagem, e no bairro Ouro Preto, na Pampulha, e na avenida do Contorno, esquina com Amazonas.
Na avenida Uruguai, no Sion, na Região Centro-Sul de BH, o litro já é vendido a R$5,99 em um posto que fica no cruzamento com a Nossa Senhora do Carmo.
De acordo com o Centro de Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo, o preço do litro do etanol hidratado nas usinas sucroenergéticas subiu 32% no Brasil desde 18 de fevereiro, saltando de R$2,88 para R$3,83 – o maior registro desde 2002.
A alta também foi registrada no etanol anidro, utilizado na produção da gasolina. O insumo subiu 13% desde março. Nota divulgada pelo Cepea explica que o aumento de preço ocorre por uma baixa na oferta de etanol na última semana.
“Além do número ainda pequeno de usinas em atividade da safra 2022/23, as chuvas também limitaram a entrada no campo para retirada da cana-de-açúcar e, consequentemente, o andamento da produção”, acrescenta o comunicado do órgão.
Para o economista do Observatório Social da Petrobras, Eric Gil Dantas, a inflação sobre o etanol também deriva do encarecimento da gasolina. Levantamento feito pela empresa ValeCard aponta que, na capital mineira, o valor médio de venda do litro é de R$7,69.
Com este valor, a relação do preço do etanol sobre a gasolina chega a 71%, percentual não indicado para o abastecimento com o derivado da cana. “O principal motivo para a variação sobre o preço do etanol é a alta da gasolina. Acho até que deve cair um pouco com a nova safra (de cana de açúcar) indo para a moagem, mas não uma queda considerável”, afirma Dantas.
Ele destaca que a pressão sobre os combustíveis deve ser ampliada em maio, quando a Petrobras vai reajustar os valores do GNV – gás natural veicular. “O consumidor já não tem mais para onde correr”, atesta.
Desabastecimento
Em nota divulgada à imprensa, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro) afirmou que o encarecimento do etanol ocorre em um momento de risco de desabastecimento do insumo no estado.
O órgão sindical diz que a Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), que representa as usinas produtoras do combustível de cana, admite que a safra deste ano está atrasada por questões climáticas e incêndios nos canaviais.
A diminuição da oferta de etanol também afeta os estoques de gasolina, segundo o Minaspetro, pois ela demanda 27% de etanol anidro em sua composição. “A falta do produto (etanol) tem chegado até às distribuidoras, que não estão conseguindo atender a demanda total da rede de postos”, detalha o sindicato.
À reportagem, a Siamig afirmou que não há nenhum tipo de problema ou falta na oferta de etanol por parte das usinas. A associação ressaltou que apesar do atraso da nova safra (2022/23) os estoques remanescentes da safra anterior (2021/22) são suficientes para abastecer o mercado.
O órgão também diz que a previsão da safra canavieira de Minas Gerais “apresentará, em 2022/23, uma recuperação com uma maior produção de etanol e oferta para o mercado consumidor”. A associação ainda confirmou que o aumento de preço “é reflexo do atraso de safra, da grande procura das distribuidoras de combustíveis e da forte recuperação do consumo”.
Balanço
Levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), divulgado em 28 de março, aponta que produção acumulada de etanol na safra 2021/2022 atingiu 27,34 bilhões de litros, sendo 10,90 bilhões de litros de etanol anidro e 16,43 bilhões de litros de etanol hidratado.
Ainda conforme a Unica, as vendas de etanol hidratado no Brasil alcançaram 632,03 milhões de litros na primeira quinzena de março, com redução de 19,14% sobre o mesmo período em 2021.