Hoje, vamos falar sobre um assunto muito sério: adulteração de combustível com metanol, um risco grave à saúde. Mas, antes, precisamos retomar um pouco as aulas de química. Você sabia que as fórmulas do metanol e do etanol compartilham os mesmos elementos químicos? Enquanto o primeiro responde pela estrutura CH4O, o segundo apresenta a forma C2H6O, sendo esse um dos motivos de serem considerados, quimicamente, substâncias “primas”. Apesar de alguma semelhança, muitos fatores as diferem, sendo o mais marcante a alta toxicidade que o metanol apresenta quando inalado.
E é justamente por isso que precisamos falar sobre metanol. Nos últimos meses, as autoridades vêm identificando, em diversas partes do país, casos de adulteração de combustível com metanol (confira aqui), algo de extrema gravidade, visto seu poder letal, ou de deixar sequelas importantes, como cegueira, por exemplo.
E não para menos, o metanol tem sido responsável por mortes decorrentes de um sério drama social. Moradores de rua de São Paulo, que consumiram de forma deliberada etanol de postos (possivelmente batizado com metanol), acabaram vítimas de intoxicação grave, vindo a óbito.
A situação tem se tornado um pesadelo para as autoridades, tanto que o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox), da Unicamp, emitiu um alerta para o aumento de casos graves de intoxicação por metanol na região de Campinas (SP). De acordo com as informações, a alta pode ser “a ponta de um iceberg” no cenário nacional.
Metanol é banido das pistas de corrida
O metanol, que já foi combustível da fórmula Indy, acabou banido das corridas por conta, justamente, dos riscos que causa, incluindo explosão, incêndio e sua altíssima toxicidade. Ele tem um detalhe interessante e assustador, que dificulta, até mesmo, o trabalho dos bombeiros: a chama, no caso de incêndio, não é visível. Então, uma vítima que está sendo queimada sente a dor, mas não enxerga o fogo.
Todos esses riscos fizeram o metanol ser banido, como combustível, em vários países. Alguns ainda insistem sob intensa supervisão e controle.
Ganância de uns é risco de vida para outros
Por possuir carga tributária menor que a do etanol, o metanol, que é usado como insumo na produção industrial de solventes, pisos, adesivos, etc., sendo o seu uso proibido como combustível no Brasil, acaba sendo um bom atrativo para os adulteradores. Ou seja, o metanol importado, que deveria ir para a indústria, é utilizado para outros fins, principalmente no que diz respeito à adulteração de gasolina e etanol, enriquecendo o bolso de empresários inescrupulosos e colocando em risco a vida de muitas pessoas.
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) vem trabalhando para controlar o batismo com metanol nos postos, bem como a sua importação irregular, considerado o “calcanhar de Aquiles” desse grave problema. Por força de lei, a agência tenta controlar toda a comercialização de metanol importado no Brasil. Sendo legal (quando voltado à indústria), seu uso tem que ser comprovado por meio de notas e compras destinadas aos seus fins específicos. Mesmo assim, as quantidades importadas têm aumentado, o que indica forte possibilidade do uso ilegal e adulteração de combustível.
Metanol deveria ser tratado como caso de saúde pública
Em entrevista publicada aqui no site do Instituto Combustível Legal, o médico Flavio Zambrone, especialista em Toxicologia e Doutor em Saúde Pública pela Unicamp, é enfático ao chamar atenção para a gravidade do problema. Segundo ele, “o combustível adulterado afeta uma série de pessoas, incluindo os frentistas, os motoristas, sendo um problema de saúde pública”.
Ele completa lembrando que, apesar de existir legislação que proíba o uso de metanol como combustível, esse é um crime difícil de ser identificado. “Seria importante fazer campanhas e alertas para a sociedade”, destacou o médico. E arrisco a dizer que o mais exposto a esse problema é o frentista, que lida o dia inteiro com o problema da adulteração. Note que os efeitos na saúde podem chegar pela inalação, contato com a pele, ou ingestão, como foi o caso dos moradores de rua.
Estragos no motor
No seu carro, o poder explosivo do metanol, um pouco superior ao do etanol e da gasolina, poderá passar despercebido. Como no etanol, o metanol tem menor poder calorífico e faz o carro consumir mais quantidade. Como o motor não é preparado para o metanol, ele poderá, com o tempo, estragar.
Um ponto importante: o metanol é sensível à umidade e deteriora rapidamente, assim, as falhas de ignição aparecem nesse batismo. Se você desconfiar do posto, faça uma denúncia junto à ANP pelo telefone 0800-970-0267, ou entre em contato com o Procon de sua região.
Lembrando que o site do ICL também possui a seção Denuncie, que facilita encontrar o órgão certo para a sua denúncia. Basta colocar a sua região e o tipo de fraude do qual foi vítima para ter acesso aos órgãos de fiscalização competentes e fazer a reclamação!
Não se esqueça: abasteça em postos de confiança e peça sempre a nota fiscal, pois ela é o seu instrumento para denunciar. Destaco aqui que o metanol é uma adulteração difícil de ser identificada e ao sinal de sintomas, como dor de cabeça depois de abastecer, irritação nos olhos, vertigem, náuseas e vômitos, procure um médico. Tenha atenção também a cheiro forte de combustível no ambiente, pois pode ser indicativo de metanol. Fica a dica!
Fonte: https://www.fecombustiveis.org.br/noticia/precisamos-falar-urgentemente-sobre-metanol/254664