O setor de combustíveis vem apresentando as duas faces da moeda da crise econômica que chegou com a pandemia do coronavirus: de um lado, há queda de preço, que deve empurrar a inflação para perto de zero ou até abaixo; de outro, os postos registram declínio nas vendas e incapacidade de manter a estrutura que tinham antes. O consumo de combustível caiu cerca de 80% nos meses de março e abril. Por conta da perda de receitas, as demissões já acontecem, alcançando cerca de 3 mil trabalhadores.
Segundo Alexandre Cavalcante, presidente do Sindicado dos Proprietários dos Postos de Combustíveis no Piauí, o estado conta com 1.000 postos, que empregavam em torno de 10 mil trabalhadores. As demissões estão tirando postos de trabalho de aproximadamente 30% dos funcionários – o que aponta para as cerca de 3 mil demissões. Alexandre dá o exemplo da rede que controla: lá na Mais foram 108 demissões, um quarto do total.
Alexandre Cavalcante vislumbra dias difíceis pela frente, avaliando que a crise não será superada de uma hora para outra. “Até o final de maio, os postos terão demitido um terço de seu pessoal”, diz. E afirma: “Na situação atual, estamos pagando para manter os postos funcionando”. O presidente do sindicato reclama ainda que o governo do Estado segue cobrando o ICMS como se o preço do combustível fosse o mesmo do início de março (uma média de R$ 4,60 pelo litro da gasolina comum). A maior parte dos postos hoje pratica preços entre R$ 3,89 e R$ 3,99, podendo-se encontrar valores menores. Na pior das hipóteses (litro a R$ 3,99), a queda de preço é de 13% desde março.
Essa redução acontece em todo o Brasil e deve levar ao registro, em abril, da menor inflação desde o começo do Plano Real. A previsão do IBGE é de uma inflação de 0,03%.
Brasil poderá registrar até mesmo deflação
As projeções do IBGE para o mês de abril (inflação próxima a 0%) podem ser superadas nos próximos meses. Há economistas que não descartam a possibilidade de deflação (preços em queda). Isto porque o declínio do consumo ocorre em todas as áreas. No caso dos combustíveis, eles vão ter um impacto importante no IPCA de abril, já que o setor de transporte é o grupo com mais peso no cálculo geral dos preços ao consumidor. Neste mês de abril, o preço do combustível declinou em torno de 6%; o de transporte por aplicativo 3,11%; e o aluguel de veículo, 7,68%.
Vale lembrar, os combustíveis começaram a perder valor ainda antes da crise do coronavírus se instalar de vez no Brasil, por conta do cenário internacional com grande oferta de óleo e, em seguida, o declínio do consumo. Na segunda-feira, o barril de petróleo (referência dos EUA) foi comercializado a US$ 15 – valor que é um décimo do praticado tempos atrás. A queda na cotação do petróleo ajuda a baixar o preço do combustível na bomba. Mas o coronavírus anula a vantagem e faz o consumo despencar e o desemprego subir.