Analistas destacam projeções conservadoras do plano estratégico da companhia e foco maior em eficiência e em ESG.
O Petrobras Day da última segunda-feira (30) trouxe o detalhamento do tão esperado plano estratégico da Petrobras (PETR3;PETR4) para 2021-2025.
Os investidores tinham como uma das expectativas haver mais esclarecimentos com relação às metas de produção que, a princípio, decepcionaram o mercado quando foram divulgadas na sexta-feira.
A produção de petróleo e gás estimada pela empresa para 2025 é de 3,3 milhões de barris de óleo equivalente ao dia (mboed) comparados a 3,5 mboed estimado anteriormente para 2024 e a projeção de 3,17 mboed. Isso implica em uma taxa de crescimento anual de produção de 4,7% em 2021-2025 em comparação com 6,7% no plano anterior. A produção total esperada de 2021 é de 2,75 milhões de barris ao dia (mbpd) produção de óleo de 2,23 mbpd. O número ficou abaixo das projeções, por exemplo, dos analistas da XP Investimentos, que esperavam 2,88 mboed e 2,27 mbpd, respectivamente.
Gabriel Francisco e Maira Maldonado, analistas da XP, destacaram em relatório que essa previsão de produção menor de petróleo, impactada por menores expectativas de crescimento de produção de petróleo de novas unidades de produção, poderia ser interpretado de uma maneira um pouco negativa pelos investidores.
Contudo, esse aspecto não causa preocupação para os analistas, tendo em vista acreditarem “que o mercado deve prestar mais atenção na maior geração de caixa e sustentabilidade financeira da Petrobras do que simplesmente um crescimento de produção de petróleo a qualquer custo”.
Enquanto a empresa atrasava o início das operações de algumas plataformas como Marlim e Parque das Baleias, o começo das operações de Itapu foi antecipado em 1 ano. Segundo a administração, isso faz parte de uma reformulação do portfólio que passa a priorizar projetos com breakeven (ponto de equilíbrio) com preços do Brent em US$ 35 o barril (versus US$ 45 a US$ 50 o barril no plano anterior).
Na mesma linha, o Morgan Stanley ressalta que uma Petrobras mais enxuta – e até mais conservadora – se torna o caso base, com a companhia focada em eficiência, com o Retorno sobre o Capital Investido (ROIC, calculado pela divisão do lucro operacional líquido após os impostos pelo capital total investido da empresa) sendo a prioridade número 1.
“Esse é o plano de negócios mais realista, e talvez o mais conservador, já elaborado pela Petrobras. Excluindo os desinvestimentos, a gestão da companhia está definindo o plano básico em uma curva de produção de petróleo plana de 2,3 mbpd, com peso crescente e foco em campos prolíficos em águas profundas no pré-sal. As aspirações de crescimento irrealistas se foram e vemos um plano que pode ser superado se as eficiências e as evoluções tecnológicas atuem de forma favorável para a companhia”, apontam os analistas Bruno Montanari e Guilherme Levy, que assinam o relatório do banco americano.
Eles ainda ressaltam que, como mencionado por Roberto Castello Branco, CEO da Petrobras, a estatal está priorizando valor em relação ao crescimento.
“E pela primeira vez, acreditamos que o mercado terá a capacidade de acreditar – e precificar – o igual peso dado aos dividendos, amortização de dívidas e pagamento de compromissos de arrendamento operacional. Usando uma média simples, o rendimento de dividendos [dividendo/preço da ação] no período do plano ficaria em uma faixa entre 9,3% e 10,8%”, avaliam os analistas. Os dividendos maiores viriam após 2022, mas os analistas apontam que distribuições antes desse período poderiam também resultar em um rendimento atraente.
Dividendos altos para a Petrobras também estão no radar do Bradesco BBI que ressalta que, embora as previsões de dividendos de 5 anos não tenham mudado significativamente – a companhia informou que pretende pagar entre US$ 30 bilhões e US$ 35 bilhões em dividendos até 2025, a grande diferença é que a Petrobras estava usando como referência um preço brent de US$ 65 o barril no plano anterior, e agora está usando uma média de 5 anos de US$ 48 o barril. Ou seja, uma revisão dessas projeções pode levar a um potencial maior de remuneração.
“Também destacamos que os preços das ações também caíram aproximadamente 35% em relação a novembro do ano passado, quando a Petrobras apresentou seu plano anterior. Como resultado, acreditamos que o dividend yield da Petrobras deve ultrapassar os níveis de 10% até 2022 (ou 2023), o que está muito acima da média paga por seus pares globais”, avaliam os analistas.
Atualmente, o Bradesco BBI aponta que vê os pares globais da Petrobras oferecendo um rendimento médio de dividendos entre 6% e 7% até 2022, com os nomes russos em 9%. “Em nossa opinião, o rendimento justo da Petrobras deve ser mais próximo de 8%, o que justificaria uma valorização significativa das ações em um horizonte de 2 anos”, avaliam.
De acordo com os analistas do banco, a perspectiva de dividendos sólidos da Petrobras está diminuindo a percepção de risco dos agentes de mercado, o que justifica a valorização contínua das ações.
O Credit Suisse projeta que, com o pagamento de US$ 30 bilhões a US$ 35 bilhões, o rendimento de dividendos ficaria entre 10% e 11%, mas espera rendimentos ainda maiores, de cerca de 15% ao ano, em média, pelos próximos cinco anos.
A empresa ainda projeta que os custos de exploração permaneçam nos níveis baixos recentes, ressaltam os analistas. A administração da estatal espera um custo médio de extração de US$ 5,20 o barril ao longo do plano de 5 anos, uma estimativa significativamente menor do que a projeção do BBI, de US$ 6,40 o barril.
Na avaliação do Bradesco BBI, a meta da dívida bruta, de US$ 67 bilhões para 2021, é realista, mas pode ser conservadora. Ela contempla um preço médio do petróleo de US$ 45 o barril para 2021 (o preço spot está em US$ 47 o barril). Contudo, caso as vacinas sejam aprovadas, elas devem ter um efeito positivo sobre os preços do petróleo (devido à mobilidade), e as estimativas da empresa podem se provar conservadoras. “Estimamos que, para cada US$ 5 que os preços do Brent subam, a geração de FCFE (Fluxo de Caixa Livre do Acionista) da Petrobras aumenta em US$ 2,6 bilhões”, apontam.
Vale ressaltar que, no fim de outubro, a estatal alterou a política de remuneração de acionistas, permitindo que a administração proponha pagamento de dividendos mesmo em exercícios em que não for registrado lucro contábil. Isso desde que atendida uma meta de endividamento inferior a US$ 60 bilhões.
Já no cenário de endividamento bruto acima de US$ 60 bilhões, a Petrobras também poderá apresentar proposta de distribuição de recursos aos acionistas mesmo sem lucro contábil, desde que se verifique redução de dívida líquida no período de 12 meses anteriores (veja mais clicando aqui).
PETR3 e PETR4: novamente unidas?
Nesse sentido, Francisco e Maira, da XP, apontam que as metas estabelecidas pela Petrobras em seu plano são razoáveis e viáveis , e seu atingimento deve contribuir para a valorização das ações daqui em diante. Eles consideram a evolução das métricas de endividamento (ou alavancagem) como as mais importantes a serem monitoradas, visto que a companhia poderá distribuir mais dividendos a acionistas conforme atinge um certo patamar de dívida bruta.
Os analistas da XP ajustaram a recomendação para as ações ON e PN da Petrobras de modo a atualizar as perspectivas para o preço do petróleo e mudanças nas estimativas no segmento de exploração e produção, relacionadas à recente aquisição da participação minoritária na P-71 e à implantação da plataforma no campo de Itapu.
Mas, além disso, houve uma mudança de metodologia na definição dos preços-alvo de PETR4 e PETR3, possuindo recomendação de compra para ambos os ativos. Se, anteriormente, o preço-alvo para PETR3 era de R$ 29 e de PETR4 era de R$ 30, o novo preço-alvo (tendo em visto um horizonte de 12 meses) passou a ser de R$ 32 para as duas classes de ações, ordinárias e preferenciais. Enquanto, a princípio, os papéis ordinários têm direito a voto, os preferenciais têm “preferência” a um pagamento de dividendos maior, o que justificaria anteriormente um valor maior para os ativos na B3.
Contudo, aponta a XP, além da incorporação da nova política de dividendos, as recentes declarações dos executivos da companhia de que pretendem realizar a mesma distribuição de dividendos para ambas as classes de ações (PNs e ONs) levam a um mesmo preço-alvo para PETR3 e PETR4.
“Não vemos motivo matemático que justifique que uma das classes de ações da Petrobras valha mais do que a outra, pois as distribuições de dividendos a ambas as classes serão iguais e ambas as ações já desfrutam de alguns mesmos direitos segundo o Nível II de Governança da B3”, aponta a XP.
Por sinal, na véspera, em um dia de queda para os mercados, as ações PN caíram 2,35%, fechando a R$ 24,90, um valor menor do que os R$ 25,55 de fechamento da PETR3, que caiu bem menos, 1,35%. O potencial de valorização para os papéis PETR3 e PETR4 levando em conta o preço-alvo de R$ 32 da XP seria, respectivamente, de 25% e 28,5%.
Enquanto isso, Morgan Stanley, Credit Suisse e Bank of America possuem recomendação para os American Depositary Receipts (ADRs, ou recibo de ações dos papéis negociados na NYSE) PBR da estatal, equivalente aos ordinários, sendo que todos eles recomendam compra (ou equivalente) para os ativos. O Morgan tem preço-alvo de US$ 15,50 para o papel, com potencial de valorização de 62% frente ao fechamento da véspera, enquanto o Credit tem preço-alvo de US$ 15 tendo um horizonte de 12 meses, ou um upside de 57% e o BofA tem preço-alvo de US$ 14 (upside de 46,3%). O BofA possui recomendação também para o papel PN com preço-alvo de US$ 38, com potencial de valorização de 52,6% em relação ao último fechamento.
ESG também em destaque
Além dos pontos destacados acima, os analistas também destacaram que a governança social e ambiental também foi destaque, com medidas como controle da emissão de gases estufa e de vazamentos de petróleo e derivados impactando diretamente nas compensações pagas a funcionários a partir de 2021.
A empresa também se compromete a aumentar reúso de água, frear o aumento de rejeitos implementar projetos sobre biodiversidade em áreas nas quais atua e investir em projetos sociais e ambientais.
“Destacamos também como positivo que a empresa forneceu metas mais tangíveis e claras na frente ESG, visto que, em última instância, deve levar a um maior interesse em ações por parte dos investidores focados em tais métricas”, avalia a XP.
Desta forma, os analistas ressaltam que, apesar da alta registrada em novembro, que superou os 30% no período, as ações da Petrobras ainda têm espaço para andar, também em linha com o progresso que a companhia projeta fazer nos próximos anos em termos de eficiência, produção e pagamento de dividendos. As expectativas são positivas.