A Petrobras (PETR4) pode deslanchar investimentos no chamado diesel renovável caso uma consulta pública aberta pela reguladora do setor de combustíveis ANP culmine com o reconhecimento do combustível como elegível a participar das misturas no diesel, disse nesta sexta-feira a diretora de Refino e Gás Natural da companhia, Anelise Lara.
Segundo ela, a Petrobras finalizou com sucesso neste mês testes de processamento de diesel com óleo de soja refinado na refinaria Repar, no Paraná, onde a empresa coprocessou 2 milhões de litros do produto vegetal, que resultaram em cerca de 40 milhões de litros do produto com conteúdo renovável.
“A partir dos resultados, confirmou-se a viabilidade técnica da tecnologia, estabelecendo alternativa de fácil implantação para a captura de oportunidades do negócio de diesel renovável”, afirmou a diretora, em videoconferência para comentar os resultados da companhia.
A executiva afirmou ainda que a expansão do projeto agora depende apenas do reconhecimento desse diesel renovável para fins do cumprimento dos mandatos de biodiesel e elegibilidade desse combustível para créditos de descarbonização (Cbios).
O eventual reconhecimento do diesel renovável, contudo, pode gerar concorrência e incomodar a indústria de biodiesel do Brasil, que atualmente conta com uma mistura obrigatória de 12% do combustível no diesel.
Mais de 70% do biodiesel produzido no Brasil é feito a partir de óleo de soja, o que também indica impacto no mercado da commodity, que tem no segmento de combustível importante fonte de demanda.
Além elevar a mistura de biodiesel em 1 ponto percentual neste ano, dentro de um plano que prevê aumentos anuais, o Brasil lançou o programa RenovaBio, que estabelece um mercado de Cbios que as distribuidoras de combustíveis terão de comprar para cumprir metas de descarbonização.
Esses créditos também são vistos como importante fonte de recursos para os produtores de biocombustíveis, que são os emissores dos Cbios.
Esses créditos formarão um mercado que parece ter despertado o interesse da Petrobras, conforme as declarações da executiva.
Anelise ressaltou que a consulta pública da ANP, reaberta em meados deste mês, pode ser “um passo importante para os novos investimentos no nosso parque de refino”.
Ela comentou que a produção de diesel verde poderia ser integrada a refinarias da Petrobras, em coprocessamento de diesel com óleo vegetal, ou em unidades que venham a ser projetadas.
A consulta da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis (ANP) terá duração de 45 dias e uma audiência pública foi marcada para o dia 17 de setembro, por meio de videoconferência.
Segundo Anelise, o diesel renovável dá continuidade ao compromisso de redução de emissões de gases de efeito estufa pela Petrobras.
“Ao contrário do biodiesel, o diesel renovável não possui contaminantes, e isso é ambientalmente mais vantajoso, e atende limites de emissões veiculares que serão adotados a partir de 2022 e 2023”, comentou.
De acordo com apresentação da Petrobras, o diesel renovável confere melhor qualidade de combustão e desempenho ao motor, além de maior estabilidade à oxidação e menor absorção de água, podendo ser adicionado em qualquer proporção ao diesel de alta performance.
O novo combustível tem ainda baixos teores de contaminantes, preservando o sistema de injeção dos veículos, defende a estatal.
Outro lado
Representantes do setor de biodiesel discordam do fato de que seu produto tenha mais contaminantes e consideram que o biodiesel permite maior redução de gases do efeito estufa ao ser misturado ao diesel.
Para a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que representa importantes produtoras de biodiesel, o chamado diesel renovável é um produto diferente do biodiesel e tem maiores custos.
Consultado anteriormente sobre o tema, o economista-chefe da Abiove, Daniel Amaral, disse que o setor não é contra o chamado diesel renovável, mas acredita que o país deveria direcionar investimentos para o biodiesel, que poderia reduzir importações de diesel fóssil.
Ele lembrou ainda que as associadas da Abiove já estão em conformidade com as especificações técnicas das fases futuras do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), do Ministério do Meio Ambiente, antecipando-se a exigências da legislação.