O ministro das Finanças da Arábia Saudita, Mohammed Al-Jadaan, disse que o país está aberto para discutir a comercialização de petróleo em outras moedas que não o dólar americano.
A fala faz parte de uma entrevista concedida à Bloomberg TV, que cobre o Fórum Mundial Econômico em Davos e está sendo considerada um grande aceno à China, país com o qual o governo saudita pretende aprofundar relações comerciais.
Há menos de dois meses, o presidente chinês Xi Jingping fez visita oficial à Riyadh, capital do país árabe, sob votos de laços mais estreitos entre o maior exportador e o maior importador de petróleo.
Na oportunidade, chefes de Estado anunciaram investimentos conjuntos no setor petroquímico e maior colaboração em outras fontes energéticas mais limpas como hidrogênio, eólica e fotovoltaica.
Desde que anunciou o fim das últimas medidas que deram caracterizaram a política ‘Covid Zero‘. a China vem retomando a atenção do noticiário econômico. É, inclusive, a perspectiva de recuperação do consumo chinês por combustíveis que responde pelo rali dos mercados de petróleo em janeiro.
Desde o dia 3 de janeiro, os contratos futuros de petróleo avançaram 6%, o que traz o barril tipo Brent de volta a marca dos US$ 84; o óleo cru, por sua vez, beira os US$ 80.
O petróleo e o gelo diplomático entre EUA e os árabes
Enquanto os laços entre China e Arábia Saudita ficam mais fortes, o mesmo não pode ser dito para a relação dos americanos e sauditas.
A administração de Joe Biden mantém desavenças que datam da sua corrida presencial em 2020. Em um dos debates televisionados, Joe Biden disse que tornaria a Arábia Saudita um “estado párea” ao prometer consequências pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.
A retórica de Biden cobrou um preço geopolítico aos EUA após a eclosão da guerra da Ucrânia, quando o presidente se viu obrigado a pedir que os sauditas aumentassem a produção de petróleo como forma de atenuar a inflação de combustíveis em seu país. A resposta foi um fragoroso não.
Mais recentemente, a Administração Biden voltou a criticar indiretamente a Arábia Saudita, ao qualificar as últimas decisões da Opep+ — cartel liderado, na prática, pelo maior exportador de petróleo — como “equivocadas” e “de curto-prazo”.
O grupo de produtores decidiu, desde outubro, a manter um corte de produção de 2 milhões de barris por dia.
Petrodólar em xeque?
A declaração do ministro das Finanças em Davos, sugerindo que outras moedas poderiam ser igualmente utilizadas na compra e venda de contratos de petróleo, volta a jogar dúvidas sobre quanto tempo mais durará a sobre a supremacia de cinco décadas da moeda americana como ‘lastro’ do comércio internacional da commodity.
Cunhada de ‘petrodólar’, a adoção da divisa norte-americana pelos principais produtores de petróleo nos anos subsequentes à Primeira Crise do Petróleo (1973) lhes permitiu aumentar consideravelmente a liquidez de seus ativos no mercado internacional, provocando um ‘boom‘ de crescimento econômico.
Consequentemente, o protagonismo do dólar também acabou fortalecendo a influência geopolítica dos Estados Unidos sobre os países produtores.