Neste ano, os preços do petróleo vêm subindo muito mais por causa dos números de demanda e das manchetes do que pela oferta em si. De fato, a demanda de petróleo avançou significativamente, assim como as previsões de maiores mudanças, enquanto a oferta permaneceu relativamente estável.
Os dados nos Estados Unidos fornecem importantes indicadores sobre a demanda petrolífera, em parte porque sua frequência é semanal e ficam prontamente disponíveis.
Durante as estações de primavera e verão no país, o consumo de petróleo registrou forte alta em direção aos níveis pré-pandemia, aumentando a expectativa de um retorno à demanda normal, ou quase normal, à medida que entramos no segundo semestre do ano. Com isso, os preços do petróleo subiram bastante. Mas existem agora algumas indicações de que a demanda não ficará tão perto dos níveis pré-pandemia como se esperava.
Por isso, os investidores precisam acompanhar de perto os dados.
Era grande o otimismo na semana passada quando a EIA, agência americana de informações energéticas, divulgou seus dados para a semana encerrada em 2 de julho. Esse relatório mostrou que a quantidade de gasolina fornecida aos postos nos EUA foi de 10 milhões de barris por dia (mbpd). São números considerados como indicativos de demanda e representam o maior aumento semana a semana desde 1990. Esses 10 mbpd foram maiores do que qualquer número registrado em 2019, antes da pandemia.
Durante a maior parte de 2021, a oferta de gasolina nos EUA espelhou os padrões sazonais de 2019, mas em níveis inferiores. As entregas de gasolina aumentaram ao final de maio, que marca o início da temporada de viagens automotivas de verão. Naquele momento, o volume de gasolina estava fechando a lacuna em relação aos níveis de 2019.
No início de julho, os 10 mbpd transferidos para os postos ultrapassaram os níveis de 2019 para a mesma semana. Isso suscitou argumentos, entre investidores e analistas, de que os EUA haviam finalmente voltado aos níveis pré-pandemia em relação ao consumo de gasolina.
É preciso ter em mente, contudo, que esse aumento de oferta de gasolina aos postos ocorreu antes do feriado prolongado de 4 de julho, uma data que geralmente registra alto nível de viagens nos Estados Unidos. E os volumes fornecidos aos postos não têm necessariamente correlação direta com o consumo do combustível.
Os dados da semana seguinte foram divulgados na última quarta-feira, e mostram que o volume de gasolina distribuída caiu novamente para 9,28 mbpd. A expectativa era que houvesse mais uma alta. Além disso, os dados indicaram que os estoques de gasolina e destilados (diesel) cresceram no país.
A atividade de refino também registrou leve queda. Os estoques de gasolina só subiram 1 milhão de barris, mas, se considerarmos a leve queda na atividade de refino, tudo indica que o consumo de gasolina nos EUA já atingiu seu pico neste verão local. Em outras palavras, tudo leva a crer que veremos uma queda na demanda e, talvez, uma ampliação da lacuna entre os níveis de 2019 e os atuais.
É bem verdade que houve uma grande queda nos estoques de petróleo na semana passada. A redução foi de quase 8 milhões de barris. Mas é preciso lembrar que esse dado não é uma boa medida da demanda americana, haja vista que as exportações petrolíferas do país atingiram, pela quinta vez na história, 4 mbpd.
Isso pode ser resultado do aumento da demanda internacional pelo WTI, que é mais barato que o Brent. (Obs.: o diferencial de preços entre o WTI e o Brent se estreitou recentemente, mas era significativamente maior no momento da compra.)
Se uma semana apenas não é suficiente para determinar uma tendência, é preciso, então, acompanhar de perto os dados sobre a oferta de gasolina (demanda implícita) nas próximas semanas.
Os investidores também devem ficar de olho nos estoques de gasolina e na utilização das refinarias. O próximo ponto de inflexão na demanda nos EUA será o Dia do Trabalho, que marca o fim da temporada de viagens automotivas de verão e geralmente registra alto consumo de gasolina. Esse feriado ocorre em 6 de setembro neste ano.
Vale notar que a pandemia de Covid não será a maior culpada se os números de demanda ficarem aquém das expectativas. Isso porque os preços mais altos da gasolina e as maiores taxas de inflação também estão afetando o consumo no país. Tampouco podemos ignorar isso.