O aumento da demanda por etanol por diversos setores pode fazer com que, apesar da produção expressiva, o Brasil tenha falta de oferta daqui a alguns anos, o que levaria à necessidade de construção de novas unidades produtoras, afirmou o CEO da Raízen, Ricardo Mussa.
“Uma preocupação no Brasil é, nesse balanço oferta e demanda que projetamos para os próximos anos, não ter oferta suficiente; vai precisar de construção de novas unidades”, afirmou ele ontem, 2, durante conferência do Credit Suisse. “Apesar da oferta, há muita demanda de outros tipos de produtos”, acrescentou.
O executivo citou que hoje boa parte da produção da companhia não é para fins carburantes, e sim para uso industrial. “Com a onda verde, tem várias demandas de outros setores, como o farmacêutico, que vão para o etanol”, disse. Ele citou ainda as indústrias de plásticos e químicos. “Temos uma cadeia carbônica barata e renovável”.
Para conseguir suprir a crescente demanda, a produtividade da cana-de-açúcar é essencial, afirmou. Ele lembrou também do etanol de segunda geração, que pode aumentar a produção do biocombustível em 50% sem aumento de área.
O CEO da Copersucar, João Roberto Teixeira, afirmou no mesmo evento que a companhia vem buscando melhorar a produtividade com novas variedades e adoção de semente de plantio, algo que vem sendo desenvolvido pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), do qual tanto a Raízen quanto a Copersucar são sócias.
“Acreditamos que até 2030, com variedades e sementes, podemos dobrar a produção de cana com a mesma área usada hoje”, afirmou Teixeira. “Nós vimos, nos últimos 20 a 30 anos, enormes ganhos de produtividade no milho, soja, mas não na cana. Estamos no começo desse processo de grande ganho de produtividade na cana-de-açúcar, e vejo isso com muito otimismo”.
Índia e interesse internacional
Empresas indianas já procuraram a Raízen com intenção de adquirir a tecnologia do etanol de segunda geração – produzido por meio de resíduos da fabricação do biocombustível 1G –, afirmou o CEO da companhia, Ricardo Mussa.
“Podemos exportar não só o produto, mas também a tecnologia”, disse ele no evento do Credit Suisse. “Já fomos ‘aproximados’ por várias empresas da Índia que querem comprar tecnologia”.
O executivo afirmou que a Raízen tem uma planta de etanol 2G em funcionamento e outras em construção, e que a tecnologia permite aumento de 50% da produção sem área extra. Os preços são mais vantajosos em razão das classificações diferentes, já que o biocombustível é classificado como avançado e que não é produzido a partir de plantas, mas sim de resíduos.
Quanto a questionamentos de concorrência por área entre biocombustíveis e alimentos, Mussa lembrou que a cana-de-açúcar hoje ocupa menos de 1% do território brasileiro. “É uma planta com densidade enorme”.
O executivo também disse que, além do Brasil, outros países podem apostar na transição energética a partir do etanol, e não apenas da eletrificação de veículos. “Os principais são os que têm grande produção de cana-de-açúcar, como Tailândia e Índia. Países da África também devem adotar o biocombustível antes do veículo elétrico”, completa.