A cidade de Passo Fundo tem uma frota de veículos, segundo dados da Receita Estadual, que gira em torno de 100 mil veículos. Se somar a isso a frota diária que vem de outros municípios, a cidade tem um dos maiores fluxos da região norte. Porém, ainda antes da pandemia um fenômeno estranho chamou a atenção dos motoristas: o fechamento de postos de gasolina.
Um levantamento da Uirapuru apontou que ao menos seis postos fecharam na cidade nos últimos meses. Dois deles estavam localizados um de frente para o outro, na Avenida Brasil, próximo da Rua Ângelo Preto; um localizado na Avenida Presidente Vargas, próximo da Igreja São Cristóvão; outro na Fagundes dos Reis, baixada da Vila Vergueiro; um na BR-285, na entrada da localidade de São Miguel e, por último, no Centro da cidade um dos mais emblemáticos: o Posto Shell da Morom, que por muitos anos esteve na bandeira Esso e é lembrado até hoje como Esso Morom.
A Uirapuru entrou em contato com o proprietário do posto Shell da Morom, o empresário Eduardo Dalvit, que explicou os motivos da decisão de fechar o local. Eduardo frisou que não pode falar pelos demais negócios da cidade, mas no seu caso foi uma soma de fatores. O primeiro e principal motivo foi a falta de suporte pela companhia Raizen (Shell), que detinha o contrato de operação com o local. Devido a operação ser de apenas um posto, sendo este um volume irrisório de venda para a companhia, o empresário ficou em uma condição de “descartável”, sem poder negociar valor de compra.
Com isso, Dalvit explicou que estava comprando combustível mais caro do que os postos concorrentes vendiam na bomba. Ele destacou que chegou comprar a gasolina R$ 0,10 centavos mais caro do que outros postos e, com preços mais caros, diminuíram os clientes por questão de concorrência.
Outro fator que contribuiu para o fim das atividades do posto foi a questão das baixas margens de ganho dos revendedores. Somado a isso, há um custo muito alto operacional e de pessoal, sendo tudo regrado com criterioso sistema ambiental. As margens de lucro estão, conforme o empresário, abaixo de 10% e, segundo ele, os tributos do combustível fornecem o maior lucro para os governos, chegando a ter 70% do valor final da bomba em impostos.
O empresário Eduardo Dalvit também destacou como outro motivo do fechamento os problemas de fluxo no trânsito central. Por estar localizado na Morom, o posto tinha um fluxo de automóveis prejudicado. Em contraponto, havia um alto fluxo de pedestres, que era muito bom para a venda na loja de conveniência. Como a loja dentro do posto não era franqueada, ela tornou-se na principal fonte de renda no negócio, mas devido às restrições de horários e frequentes reclamações e denúncias da vizinhança, acabou desgastando demais o negócio. Ele frisou que sempre cobrou apoio e segurança dos órgão públicos, mas não teve retorno nenhum.
Por último, o empresário recebeu uma boa proposta de aluguel do terreno, de um grupo que atua na área farmacêutica. Porém, consta em contrato uma cláusula de confidencialidade e no momento ele não pôde informar qual grupo é esse.
Também em entrevista na Uirapuru, o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Carlos Eduardo Lopes da Silva, explicou que, embora tenha ocorrido o fechamento de vários destes postos, muitos passaram para outro tipo de investimento, como a construção civil.
Ele lembrou o caso de um posto na General Netto, próximo da Caixa da Gare, que deu espaço a um importante prédio comercial. O posto na Vergueiro agora deu espaço para uma academia, enquanto um dos postos da Avenida Brasil, próximo da Ângelo Preto, dará lugar a um prédio.
O Secretário acredita que muitos destes fechamentos estão associados de fato à alta competitividade de preços e terrenos em áreas de grande valor.